É um dos mais curiosos que nos é dado admirar em construções do género, da primeira fase do barroco, no chamado “estilo nacional”.
Pela profusão de motivos e elementos, o da Caridade, é justamente considerado o mais opulento e aliciante interior da igreja vianense, que sugere a lembrança, não só pela exuberância decorativa como por traça e disposição do templo, da Igreja do Convento da Madre Deus de Xabregas (Lisboa).
Conservando a primitiva feição, é de nave única, revestida de um formoso teto de masseira e pintado, formado por 45 caixotões com motivos de representação bíblica, representando a “Vida de Santa Ana” e a “Infância de Nossa Senhora” (corpo da igreja) e quatro dezenas de painéis menores do que os da nave, puramente decorativos, formando o teto da capela-mor (similares) dos que se vêm na Igreja de S. Bento).
Da imaginária, largamente distribuída pela igreja e dependências, fazem parte boas esculturas de madeira, a mor parte setecentistas, onde a rica policromia se conjuga com o ritmo barroco dos panejamentos, conferindo-lhes um notável vigor estético.
As paredes do templo estão revestidas de azulejos de tapete (azul sobre branco), setecentistas. Na extremidade poente da igreja admire-se os dois coros que ostentam belíssimas talhas barrocas e tetos apainelados.
O subcoro, onde os internados assistem aos atos religiosos, possui um cadeiral de talha da fundação do Convento e pintura fingindo charão, composto de trinta e seis cadeiras, sobre as quais há magnífica talha dourada, seguindo a gramática do barroco nacional, envolvendo pinturas em tela e madeira da época representando passos da vida de Cristo (5). Junto da nave venera-se uma imagem semi-roca do Senhos dos Passos.
(5) Representando: “Bodas de Caná” – transformação da água em vinho”, “S. João Evangelista”, “Assunção de Nossa Senhora”, “Jesus no Horto”, “Jesus a lavar os pés aos Apóstolos”, “Visitação dos Reis Magos”, “Última Ceia de Jesus” ou instituição do Santíssimo Sacramento, “Prisão de Jesus e o beijo de Judas”, Jesus a ser flagelado”, no “Tribunal de Caifás”, ”Jesus em terra depois de açoitado”, “Descida de Jesus da Cruz”, “Enterro de Jesus”, “O Senhor com a Cruz aos ombros a caminho do Monte Calvário”
No coro superior, ressalta o seu teto de castanho antigo, de dezasseis grandes caixotões, sumptuosamente emoldurados com aplicações florais de delicado entalhe. Digno de apreço é igualmente o seu órgão, do tempo das freiras, decorado com pintura a lacre, fingindo charão; bem como o belo retábulo dedicado a S. Martinho, de talha dourada com colunas torsas e pilastras ornadas de motivos vegetalistas, aves e anjinhos, sobre fundo vermelho. Alberga um nicho com fundo florido uma imagem antiga de madeira, do orago, sob a qual se admira um curioso baixo-relevo colorido figurando o presépio. Tem à sua esquerda a primitiva imagem de Nossa Senhora da Caridade, de lindas vestes grená, estofadas, que foi transladada em tempos do nicho onde se venerava no corpo da igreja (ocupado presentemente por uma outra, relativamente recente, em terracota). Ao lado, a jacente de Santa Madalena, assente num sacrário de porta móvel forrado a seda (1737) e decorado com ornatos florais naturalistas.